segunda-feira, agosto 27, 2012

Pelo direito à higiene das personagens de ficção


[To make a long story short, vamos fazer de conta que eu estive de férias este tempo todo, ok?]

E agora, regressada dessas férias que não existiram, venho aqui referir algo que me apoquenta, sempre que vejo televisão ou cinema, e para o qual solicito a melhor atenção dos argumentistas e/ou personagens no geral.
Ora prende-se esta minha indignação com a problemática da higiene pessoal na ficção. 
Cena um. Ela acorda aos primeiros raios de sol que inundam o quarto, para descobrir que ele já está acordado, e a contempla embevecido. Sorri, puxa-o para si, e beijam-se apaixonadamente. [Corta!] A sério, personagens? E que tal irem primeiro lavar os dentes?
Cena dois. Injustamente preso quando, numa rixa de bar, defendia a honra da sua donzela, ele passa a noite na cadeia, rodeado de bêbados e vagabundos, deitado num colchão onde sabe Deus quem já lá dormiu, tapado com um cobertor que não vê a máquina de lavar há meses. No dia seguinte, quando é libertado, vai direto para casa da amada, que, mal o vê, lhe salta para o colo e acabam a fazer o amor ali mesmo no hall de entrada. [Corta!] A sério, personagens? E um duche, antes, não?
Cena três. Cansada do marido só pensar em trabalho e nunca ter tempo para si, sentindo-se sozinha e com a autoestima em baixo, a jovem esposa observa distraidamente o jardineiro enquanto ele arranca as ervas daninhas e planta rosas novas sob o calor do meio-dia. Todo ele escorre suor, e vai limpando a cara às costas da mão, ficando com manchas de terra por todo o rosto. Finalmente, incapaz de aguentar o calor, tira a t-shirt, deixando à mostra uns abdominais dignos de um atleta profissional, mas que escorrem suor, como todo ele, de resto. Alertada pelo gesto, a jovem esposa afasta os pensamentos que a consomem e pensa como deve estar realmente calor lá fora, pelo que abre a janela e convida o jardineiro a vir até à cozinha, para beber uma limonada. Ele entra, fecha a porta, e, mal os seus olhos se cruzam, caem nos braços um do outro, incapazes de resistir ao desejo, ela deixando cair no chão o seu vestido Dolce & Gabanna, e ele colocando-se por cima dela na mesa da cozinha, com os seus abdominais perfeitos, a cara, as mãos e as unhas cheias de terra, e o suor que lhe escorre pelo corpo todo. [Corta!] A sério, personagem feminina? Todo o “cenário” não é um enorme turn off? É que até eu fiquei enojada só de escrever a cena.

Portanto, senhores argumentistas, estas cenas podem parecer bem no papel, mas depois…blherc. Personagens, rebelem-se! Recusem-se a fazer cenas de higiene duvidosa. Juntos podemos fazer da ficção um “local” mais limpinho.