Numa época em que os transportes e as comunicações nos permitem chegar rapidamente a qualquer lado, ou, pelo menos, saber o que passa em qualquer parte do planeta, o fenómeno da globalização começa a ganhar novos contornos. O mundo tornou-se mais transparente e o acesso à informação mostra-nos guerras travadas em nome do petróleo, ocupações ilegais que aumentam a instabilidade em vez de a diminuírem, milhões de africanos seropositivos enquanto os direitos de patentes das multinacionais farmacêuticas lhes aportam lucros chorudos e condicionam a produção de medicamentos mais baratos, emigrantes ilegais a viverem em condições sub-humanas, países pobres que vêem a sua dívida externa aumentar a cada dia porque não são livres de controlar os preços ou as taxas dos produtos que fabricam… E à medida que as imagens e os relatos nos entram pela casa, a um ritmo diário, desenvolve-se em nós uma dupla consciência: por um lado, apercebemo-nos de que somos cidadãos do mundo e que o que se passa por lá nos afecta pessoalmente, tornando a globalização num processo natural e inevitável; por outro, concluímos que esta globalização a que assistimos, assente fundamentalmente em pressupostos económicos e políticos, está deslocada, caduca.
Sabiam que há quatro cidadãos americanos que, juntos, possuem tanta riqueza quanto 43 países menos desenvolvidos, equivalendo a uma população total de 600 milhões de pessoas? Será preciso maior prova de que esta globalização está completamente fora do contexto e é, mais do que injusta, ridícula? A dominação exercida pela Europa, desde há cinco séculos, pela América do Norte, desde há um século, e pelo Japão, desde há quatro ou cinco décadas, baseada na exploração e na opressão, está fora do tempo e do lugar. Está na hora de evoluirmos. Está na hora da globalização assumir um carácter mais humano, mais consonante com o lugar que o social e o ético deveriam ocupar na agenda dos diversos governos. Antes que sejamos irremediavelmente corrompidos e nos vamos progressivamente desumanizando e ficando insensíveis à miséria e à carência.
*O livro que acabei de (re)ler ontem fez-me voltar a pensar nisto.
19 comentários:
Rosa,
Concordo plenamente contigo. Parabéns por esta reflexão, mas estou muito céptico...até porque a "globalização" é um termo um grande cariz económico....e só interessa para alguns aspectos.
Bom dia
Tens mais que razão, mas como diz o Parrot, estou muito céptica qto ao caminho que as coisas levam...
É urgentíssimo! Mas para que seja possível, não podemos adoptar as postura do cepticismo. Pelo contrário: há que acreditar e dar o exemplo.
Também perco algum tempo a pensar nisso, mas depois o consumismo e a rapidez da sociedade deixa-me completamente "dormente" e não devia ser assim. Obrigada por nos lembrares mais uma vez.
bjs sandra
Rosinha:
e já pensaste que não faz sentido falar em emigrantes ilegais se pensarmos que o nosso planeta, visto de um qquer vaivem espacial á distancia de poucas centenas de Km's, além de um só até não é assim tão grande...farão sentido as fronteiras politicas? os recursos da Terra deverão ser de todos os Povos!
Beijinho
zeca
O problema da globalização é esse mesmo que referes, boneca: assentar exclusivamente em pressupostos económicos e políticos. Quanto aos sociais, nem vê-los!
Já que falamos de globalização, será que é desta que vou conseguir deixar o meu 'olá'? Começo a achar q o blogger tem algo contra mim...
:) e agora fiquei contente e sem 'lata' pra falar de coisas sérias.
**
(continuo a pensar qual seria o livro)
não me parece que haja desumanização, estamos todos muito conscientes das diferenças das injustiças, das desgraças. muito mais que antes..
beijinhos
Caramba, faz tanto tempo que não dava aqui um pulinho que até fiquei espantado de isto ter virado blog de politica internacional!:p
Nunca ninguém disse que a globalização teria só vantagens! É verdade que tanto mais se fala de globalização (em termos económicos e políticos) menos se ouve falar em solidariedade e ajuda ao próximo.
Eu sei que também tenho a culpa e lembro-me muitas vezes que devíamos 'amar o próximo como a nós mesmos', mas é difícil deixarmos de ser egoístas e egocêntricos!
Só quando o Mundo estiver completamete desequilibrado é que vamos cair em nós!!
"O sorriso é o caminho mais curto entre duas almas", é bonito.
Pois é, Rosa. Tens toda a razão, isso é indesmentivel. E como tu, muitas pessoas que tendo consciência do mundo, tentam fazer algo para o mudar. A pergunta que me atormenta desde cedo é exactamente essa: fazer o quê? Que podemos fazer para mudar, mesmo que seja um pouquinho, este péssimo estado de coisas? Sou membro daquela que me parece ser uma das poucas instituições não corrompidas, a Amnistia Internacional. Faço diferença por isso? Quero pensar que sim, quero acreditar que não o sou apenas para aliviar a consciência, mas, também em consciência te digo que tenho muitas dúvidas, muitas reservas. Repara naquilo a que chamamos "humano". Não seria mais altivo chamar-mos a essa qualidade "animalesca"? Se formos a ver, ao longo dos séculos a humanidade tem sido muito "animal" ao passo que têm sido animais a dar-nos lições sobre o que devia ser "humano". Ser-se humano não é qualidade, é defeito! E um péssimo defeito.
E depois é sempre tão mais simples não pensar. Não pensar, olhar para o lado, fechar os olhos ou, vendo, dizer: pois é, isto está muito mau; para logo a seguir continuar dentro do jogo. E... contra mim falo.
Já agora: reparei que os comentários neste blog costumam ser entre os 20 e os 30, por vezes mais do que isso mas que neste post, até esta altura, apenas 15. Será coincidência? Vamos pensar que sim.
*
hmm, e que livro foi esse?...
Está excelente este post. Ainda hoje deixei um comentário a um post no http://nocinzentodebruxelas.blogspot.com/ que falava sobre a globalização.
Tens toda a razão, Rosa!E muitas vezes, pergunto-me o que posso fazer para marcar a diferença, para ser uma cidadã do mundo mais empenhada. Mas, se pudessemos começar por mudar mentalidades à porta de casa, seria óptimo!
Beijinhos
Com a globalização o mundo ficou mais pequeno, cada vez é mais dificil encontrar uma ilha secreta ou guardar um segredo...
Mas a globalização não é o nosso único aperto de momento. Os fundamentalismos, em especial os religiosos são tenebrosos e ultrapassam quaisquer lógicas...
E retiram-nos a liberdade. Já neste momento...
ET
Rosinha
infelizmente é o caminho que me parece que a humanidade está a tomar...somos cada vez mais considerados numeros nesta globalização....mera estatistica.
Fala-se em todo o lado que o ser humano é que importa e estão em primerio lugar, nsa preocupações do mundo...mas na practica serve só de desculpa para se atingir objectivos de poder e economicos.
:)*
Pior do que a globalização é a indiferença,o "deixa andar".Sózinha não posso mudar o Mundo,mas tento no meu pequeno mundo,mudar alguma coisa;com algumas frustrações á mistura é certo mas enquanto houver empenho...a "gente" vai lá. :)
beijinho
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